É preciso investir R$ 22,2 bilhões nos sistemas de captação e coleta de água

Dados do Atlas Brasil, que será divulgado nesta terça-feira, 22, pela Agência Nacional das Águas (ANA) em comemoração pelo Dia Mundial da Água, mostram que o Brasil pode enfrentar sérios problemas de abastecimento nos próximos anos.

De acordo com a ANA, é preciso investir R$ 22,2 bilhões nos sistemas de captação e coleta de água até 2015. Caso contrário, 55% dos municípios brasileiros, ou 3.059 do total, podem ser afetados pela falta de água.

Esses municípios que correm risco de desabastecimento nos próximos anos concentram 73% do consumo de água em todo o país. Atualmente, mais de 50% das residências brasileiras não têm água encanada.


O caminho para a escassez de água

Ampliar a disponibilidade de água pode ser tão nocivo quanto a falta d'água. A poluição de rios e oceanos mata mais do que todas as formas de violência, afirmou a ONU. Por Layse Ventura

Cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso a água potável. Com o crescimento da população do planeta de 6,5 bilhões para 9,5 bilhões em 2050, a demanda por água vai ser ainda maior e, provavelmente, mais pessoas vão sofrer por conta da escassez.

Os atuais 6,5 bilhões de pessoas estão utilizando 54% de toda a água doce disponível em rios, lagos e aquíferos subterrâneos, de acordo com um estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A cada ano este consumo aumenta em 160 bilhões de toneladas, reduzindo drasticamente as reservas de água.

Agricultura

Com a diminuição da quantidade de água nos lençóis freáticos, as principais regiões produtoras de alimentos – como China, Índia e Estados Unidos – estão começando a sentir as consequências.

Isso porque a agricultura é responsável por 70% do consumo de água potável disponível – enquanto o consumo doméstico responde por apenas 8%. Para se ter uma ideia, um ser humano necessita beber de dois a quatro litros de água por dia. Já a produção de um quilo de arroz, por exemplo, demanda de 2 mil a 5 mil litros.

Com o aumento populacional, haverá sempre mais bocas para alimentar e o setor agrícola terá que investir em novas técnicas que otimizem a produção, como irrigação mais eficiente e alimentos geneticamente modificados que não demandem tanta água para serem produzidos.

Água potável e saneamento básico

A  falta de acesso a água potável, saneamento básico e higiene causa, anualmente, a morte de cerca de 1,8 milhão de crianças com menos de cinco anos, segundo a ONU. A carência de água e saneamento mata uma criança a cada 20 segundos.

A crise do saneamento atinge tamanha proporção que, hoje, mais pessoas no mundo têm telefone celular do que acesso a um banheiro. Enquanto 2,5 bilhões de pessoas sofrem com a falta de saneamento básico, 5 bilhões de celulares estão no mercado.

No Brasil, 56% dos domicílios ainda não têm acesso à rede geral de esgoto. Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, do IBGE, 12 milhões de domicílios no país não contam com rede geral de abastecimento de água.

Mas ampliar a disponibilidade de água pode ser tão nocivo quanto a própria falta d’água. O excesso pode levar à formação de água parada – onde mosquitos da dengue e malária se reproduzem – e à contaminação de rios com dejetos humanos nos locais sem saneamento.

A poluição das águas de rios e oceanos mata mais do que todas as formas de violência, afirmou a ONU. O despejo incorreto de resíduos acontece principalmente nos países em desenvolvimento, responsáveis por lançar 90% de esgoto sem tratamento nas águas.

Nos países mais pobres, metade dos leitos hospitalares está ocupada por pacientes com doenças relacionadas à contaminação da água. Se estas pessoas pudessem  lavar as mãos com água e sabão seria possível bloquear uma das principais rotas de transmissão.

Alternativas

Soluções para combater a falta d’água estão sendo estudadas em todo o mundo. A longo prazo, o acesso à água potável e ao saneamento básico pode significar um retorno de US$ 3 a US$ 34 para cada dólar investido, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em Israel, um dos países mais afetados pela escassez, a solução encontrada foi investir em usinas que retiram o sal da água do Mar Mediterrâneo. O país já tem três usinas de dessalinização prontas e outras duas em construção.

Em Orange County, no sul da Califórnia, onde a falta d’água já é também uma realidade, o esgoto humano é reciclado e transformado em água potável. Através de um engenhoso processo de filtragem, a água é completamente limpa e retornada para a natureza.